Cabeças na calçada

foto por Psekkel Embora houvesse parado de fumar a mais de um anos as paredes da minha casa ainda estavam amareladas pela nicotina. Nos dias de abstinência costumava imaginar se eu conseguiria raspar as paredes e fuma-las num cachimbo. Decidi que não precisaria chegar isso, comprei uma maço  só em caso de eu sentir muita vontade. Ainda está na gaveta, fechado a mais de um ano.
Nesse verão, as noites estavam particularmente quentes. Embora os termômetros anunciassem 30 graus eu chutava uns 35 ou mais. Sophie a pequena felina que morava comigo me olhava fixamente. Eu sabia o que ela queria “Não adianta, acabou a erva do gato bonitinha, vai ter que passar sem hoje”, não havia acabado de verdade, mas eu achava que ela estava se viciando. Tinha adquirido esse tipo de comportamento.

Deitei e fiquei pensando na cabeça de porco que havia visto mais cedo, jogada na calçada. Fiquei imaginando como diabos aquilo havia parado ali. A cena foi como seria em sonho. Eu vinha andando na calçada, caminhando em direção ao posto para comprar uma coca-cola. As ruas da avenida eram escuras e pouco movimentadas, com grandes muros dos lados. Andando por ali, as vezes tinha a sensação de estar dentro de algum lugar e não fora, não fosse a pequena faixa de céu que podia ver acima, a sensação seria completa. Chegando perto do posto, vi um velho mendigo fumando uma bituca de cigarro, com grande saco ao seu lado encostado na parede e um pouco adiante vi uma coisa que parecia uma bola murcha, primeiro pensei que fosse uma pedra, mas parecia macia, logo pensei em chuta-la com tudo quando chegasse lá. Estava na sombra, e quando me aproximei ainda não conseguia distinguir o que era. Tinha cor avermelhada, um aspecto sujo. Foi quando dei a volta nela que percebi, estava olhando para mim ! Exceto que não parecia ter olhos, sua boca estava aberta, tinha alguma coisa amarelada saindo de sua boca e caindo no chão, parecia uma gosma, mas estava endurecida de um jeito que parecia uma lingua saindo de sua boca pelo canto direito. Pensei se essa cabeça, mais cedo estivera na mesa de algum banquete. Certamente não parecia. Não estava nada gloriosa agora. Olhando bem parecia estar defumada. Pensei em dar uma mordida, tive arrepios. Caminhei até o posto e comprei minha coca-cola. Pensei se o mendigo não pensou em dar uma mordida. Pensei em voltar examinar se havia alguma marca de mordida. De novo, arrepios. Imaginei um caminhão cheio de cabeças de animais passando e essa cabeça caindo ali. Quem perderia uma cabeça de porco por ai?! No caminho de volta pensei em chuta-la mesmo assim. Melhor não. Passei pela cabeça que me olhou de esguelha. Acenei, sem resposta.

Levantei da cama e fui até a cozinha me servir um copo de coca-cola, era o último. “Que se dane” pensei. Então subi as escadas e despejei um pouco de erva do gato para minha amiga felina, que me agradeceu com um sorriso. Então me sentei olhando pela janela, estiquei o braço até a gaveta e peguei um cigarro, ascendi e o estendi em direção a felina num gesto que significava “saúde”, a felina continuou rolando pelo chão e ronronando

~ por psekkel em fevereiro 24, 2009.

2 Respostas to “Cabeças na calçada”

  1. Apesar de preferir letras pretas sobre fundo branco (é mais fácil de ler), gostei do teu blog.
    parabéns/h

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